Promovido pela Fundação Gerações, o evento reuniu especialistas, autoridades e lideranças para discutir como a ação coletiva pode prevenir tragédias e fortalecer territórios vulneráveis.
O protagonismo das comunidades na gestão dos riscos socioambientais em seus territórios norteou o Seminário Gestão Comunitária de Riscos e Desastres, realizado nesta terça-feira, 14 de outubro, no CIEE-RS. Promovido pela Fundação Gerações com apoio institucional da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, o encontro reuniu representantes dos principais órgãos dedicados à pauta, incluindo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. A programação promoveu o diálogo entre especialistas e lideranças comunitárias em três painéis que abordaram a importância da ação coletiva na prevenção e gestão de desastres.
Durante o encontro, os participantes receberam um guia de bolso sobre a criação e gestão de Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil – Nupdec’s, criado pela FG para apoiar associações comunitárias no desenvolvimento de novos núcleos na região. Além disso, a Fundação Gerações disponibilizou uma biblioteca digital com materiais educativos e referências em formações gratuitas no assunto.
Especialista reconhecida nacionalmente no tema, a pesquisadora Rejane Lucena, tecnologista no Cemaden, destacou o papel do envolvimento da comunidade nas estratégias de prevenção e de educação para o tema. “É importante conhecer o que a comunidade traz de diferencial, que é o conhecimento do território, e a partir disso construir a formação sobre o que representa o risco, o que significam as vulnerabilidades e como a comunidade pode, junto com as instituições públicas, atuar na redução dos riscos de desastres e saber agir diante de uma situação de emergência”, destacou Rejane.
Para Abner Freitas, CEO da startup gaúcha Hopeful, o maior desafio é conseguir envolver as pessoas na hora certa, antes do desastre, e não durante. “Na urgência, é hora de executar planos, não de criar planos.”
Sistema integrado, ação contínua e redes comunitárias
O coordenador de Gestão de Riscos e Desastre da Defesa Civil de Porto Alegre, Evandro Lucas, a tenente-coronel Ana Maria Hermes, diretora do Departamento de Gestão de Riscos na Defesa Civil do Rio Grande do Sul e a gerente de Pesquisa e Extensão da Defesa Civil de Santa Catarina, Regina Panceri, abordaram os modelos operacionais e papel de articulação contínua das defesas civis . Os painelistas também apresentaram as principais mudanças ocorridas nas Defesas Civis onde atuam após desastres de grande proporções – caso das inundações seguidas de deslizamentos em 2008 em SC e da enchente de 2024 no RS.
A força dos Nupdec’s e das redes locais
A coordenadora-geral de Apoio à Mitigação da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, Loiane Ferreira de Souza, foi a convidada especial do painel de encerramento, que explorou a criação e funcionamento dos Nupdec’s.
“Os núcleos comunitários, o nome diz isso, são um agrupamento de voluntários que se reúnem, são capacitados, organizados e preparados para trabalharem nas ações de proteção e defesa civil, seja antes, durante ou depois da ocorrência do desastre. A defesa civil não se faz sozinha, a defesa civil se faz junto com a comunidade. E a comunidade organizada, preparada para agir, fica muito melhor — e aí a gente faz a defesa civil em sua completude”, destacou.
A assistente social Patrícia Corrêa (AVSI Brasi) e o tesoureiro administrador da Associação da Horta Comunitária União dos Operários, Marlon Eduardo Costa, compartilharam a experiência – e desafios – enfrentados no processo de criação do Nupdec Honocuno, no bairro Mathias Velho, em Canoas -uma das regiões mais atingidas pelas inundações de 2024, onde a água chegou a seis metros de altura.
“No bairro moram 50 mil pessoas e só conseguimos mobilizar 50”, relatou Marlon, que assumiu a coordenação do primeiro Nupdec daquela região.
O painel também contou com os cases da Themis, com o Protocolo de Atuação Comunitária em Emergências Climáticas., e da Ação Humanitária da Aldeias Infantis SOS na Zona Norte de Porto Alegre, apresentado pelo coordenador geral da instituição, José Carlos Sturza de Moraes.
Próximos passos: oficinas nos territórios
O projeto Gestão Comunitária de Riscos e Desastres entra em sua segunda fase no sábado, dia 18. Serão realizados quatro workshops com lideranças comunitárias de Porto Alegre, São Leopoldo, Estrela e Pelotas até o final de outubro.
As atividades serão coordenadas por Abner Freitas, da Hopeful, em parceria com a Fundação Gerações e a Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos.
“Saber como agir em uma situação de risco é essencial para todos nós. Uma comunidade que vive em uma situação de maior vulnerabilidade, riscos e fragilidades no seu território precisa reconhecer quais são esses perigos e quais são os mecanismos de organização para cuidar da vida das pessoas e da sua integralidade”, explicou a diretora executiva da Fundação Gerações, Karine Ruy.











